Os Incríveis 2



            Eu me lembro quando era criança e fui ao cinema assistir Os Incríveis, estava com a minha mãe e a primeira coisa que ela disse ao final da sessão foi: "Vai ter continuação...". Pois é,  isso foi há 14 anos atrás! Se eu soubesse que iria demorar tanto tempo nem me daria o trabalho de ficar ansioso na época. Mas enfim, será que toda essa espera valeu a pena? Bem, como eu sempre digo, é bom manter as expectativas sob controle, porque é possível que você saia insatisfeito.
            Logo após os eventos do primeiro filme, a ação dos heróis ainda é considerada ilegal. Nesse cenário, a Mulher Elástica luta contra uma ameaça e para tornar os heróis legais novamente, enquanto o Senhor Incrível deve encarar um desafio ainda maior.


            O filme inicia do momento exato da onde o anterior havia parado, ao final da corrida do Flecha com a aparição do Escavador. Foi o gancho que deixou a geração esperando pela resposta por tanto tempo e era tudo o que precisávamos ver. Mas me decepcionei quando soube que o Escavador não seria o principal vilão do filme, na verdade, ele só tem uma mínima importância no começo do longa e depois é literalmente esquecido.
            A direção e o roteiro estão por conta do mesmo Brad Bird e aqui seu texto apresenta uns trechos bem atrapalhados. Temos o desenvolvimento de dois núcleos diferentes, um da Mulher Elástica e outro do Senhor Incrível com seus filhos. Isoladamente eles funcionam muito bem, mas em conjunto representam um problema, as transições não são nada sutis e chegam até a ser irritantes. Os acontecimentos não tem o peso dramático e narrativo que deveriam pois sempre que acontece alguma coisa impactante temos a mudança de núcleo e o foco muda totalmente. As duas histórias não tem muita coesão, de modo que parece que estamos assistindo a dois filmes em um, e o encontro entre elas é muito atrasado.

            Dito isso, vamos analisar as histórias separadamente. A Mulher Elástica funciona muito bem, ela é ágil e inteligente, carregando toda a ameaça e desdobramentos importantes praticamente o filme inteiro. É uma inversão de papeis  muito interessante que eu não lembrava de ter visto em nenhuma animação anteriormente, pois enquanto ela luta contra o crime, seu marido deve ficar em casa cuidando dos filhos, invejando o trabalho da esposa. É bem legal ver um contraponto como esse, há uma quebra de barreiras sociais, mostrando que não há nenhum problema quando a mãe desempenha tarefas comumente atribuidas ao pai e vice-versa.

            É bem engraçado assitir a tudo isso na verdade, principalmente no que diz respeito ao Senhor Incrível. Inicialmente ele acredita poder cuidar de tudo na ausência da esposa tranquilamente, mas rapidamente vê que estava errado. Ele tem de lidar com os problemas escolares do filho, uma típica filha adolescente e um bebê hiperativo descobrindo seus vários poderes. Aliás, todas essas subtramas estão muito bem dosadas dentro da narrativa e proporcinam várias risadas, principalmente com o bebê Zezé. E não seria justo deixar de comentar sobre a icônica Edna Moda, ela está de volta sem tanta importância narrativa, mas a experiência já vale só de poder vê-la novamente. 

            A construção de um vilão misterioso sofre demais com as transições de núcleos, não é ameaçador e não é nem metade do que o Bochecha foi no primeiro filme, também não é muito difícil opinar sobre sua identidade. Todas essas falhas contribuem para a exibição de um filme que, apesar de ser divertido, é raso e bobo. Nem as cenas de ação são muito empolgantes, parte disso se deve a trilha sonora pouco presente. O diretor também poderia aproveitar melhor o elemento da nostalgia na criação de sequências mais imersivas.
            Os Incríveis foi um filme que marcou uma geração inteira e que a fez esperar ansiosamente por uma continuação, basta observar que em uma sessão de cinema lotada haviam poucas crianças para assistir a animação. Não vai ser tão difícil encontrar diversão aqui, mas é impossível não fazer comparações negativas e vai ficar uma sensação de eu esperava mais.


             

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