Me Chame Pelo Seu Nome



      

           Filmes costumam ser um panorama de seu tempo, uma forma de registrar assuntos importantes de sua época e se adaptar conforme transições. Me Chame Pelo Seu Nome é um filme desse estilo, importante e, mesmo se passando em um tempo diferente, é um bom relato do contemporâneo. Uma prova de que o cinema não é apenas uma indústria de dinheiro, mas de que ainda existem cineastas preocupados em contar histórias com o objetivo de transmitir uma visão e organizar um sentido de sua própria realidade.
            O longa é sobre a vida do jovem Elio que passa por algumas mudanças e reflexões com a chegada do acadêmico Oliver à sua casa para ajudar na pesquisa de seu pai.
            A direção é do italiano Luca Guadagnino, que tem o filme em suas mãos. Nota-se aqui um cuidado em narrar uma história usando elementos cinematográficos precisos e um estilo autoral. Na primeira parte do filme ele usa muitos planos médios para tratar seus personagens, dando-lhes o espaço necessário para que eles mesmos se descubram e se desenvolvam. É raro o uso de closes, usados apenas nos momentos certos com uma finalidade narrativa, aliás, a primeira vez que a câmera chega mais perto do ator causa até uma certa estranheza proposital que combina com a intenção da cena. Conforme o desenvolvimento dos personagens e da relação entre Elio e Oliver, essa aproximação dos enquadramentos se tornam mais comuns, ajudando a criar uma imersão cada vez mais intimista com os personagens, respeitando seu tempo e sem invadir o relacionamento.

            

 As escolhas de Guadagnino para tratar os desenvolvimentos do roteiro são voltadas para criar um ambiente real, relatar uma história acima de tudo verdadeira. Dessa forma ele garante que sua mensagem seja entendida sem preconceitos ou desrespeito, há a preocupação de mostrar um relacionamento tal como é e a necessidade de entender que não tem nada de errado com isso.

            A estética do filme é essencial para criar esse efeito pretendido pelo diretor. A direção de arte e a fotografia ajudam a criar um espaço palpável, um ambiente agradável e leve em que a narrativa possa parecer crível. Temos aqui algumas paisagens muito bonitas e orquestradas sob uma imagem sem exagerados de cor ou som. É um filme bastante iluminado, deixando claro os acontecimentos como se numa tentativa de realçar os detalhes e verdades da história. As cenas mais escuras ou que se passam durante a noite são inseridas mais para o final do filme e cumprem uma responsabilidade narrativa. A trilha sonora instrumental e minimalista é outro aspecto importante na criação dessa realidade, preocupando-se em torna-la sensível.


            O roteiro caminha criando situações cotidianas para acrescentar personalidade a seus personagens lentamente. Talvez até haja uma preocupação exagerada aqui em não apressar ações ou consequências, prolongando o filme mais do que necessário. Mas de qualquer forma é melhor pecar no cuidado excessivo do que na negligência de suas tramas. E o desfecho do longa também é bastante adequado, com um monólogo tocante capaz de resumir o objetivo do filme e um longo plano do rosto de Elio.
            O ator Timothée Chalamet dá profundidade ao Elio através da simplicidade. Seus gestos, movimentos lentos, postura corporal e principalmente o olhar do ator creditam ao personagem suas ansiedades e incertezas. É uma interpretação sincera e altamente imersiva, que cria camadas profundas por meio de detalhes sutis. Armie Hammer, que interpreta Oliver, é outro que entende muito bem as transições de seu papel, no início do filme “ele parece bastante confiante”, nas palavras do próprio Elio, mas com o desenrolar da trama percebemos que ele também passa por um processo, que o ator acompanha de maneira bastante genuína.


            Me Chame Pelo Seu Nome é um filme importante e produzido com bastante cuidado para afetar a nossa própria realidade. É realmente uma pena que filmes como esse estejam afastados do círculo comercial e que provavelmente poucas pessoas terão a oportunidade de perceber quem nem toda Hollywood está em declínio criativo motivado pelo lucro.

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