Jogador Número 1 (2018)
Conhecemos
hoje uma tendência bastante importante e que finalmente está ganhando espaço e
conhecimento, uma tentativa de promover a cultura geekie como uma comunidade
estabelecida, chamamos isso de orgulho nerd, comemorada na data de lançamento
do episódio IV de Star Wars, 25 de maio. O Jogador Número 1 funciona quase como
uma homenagem muito bem pensada a toda essa cultura, a exaltação de um universo
inteiro com muita história e repercussão.
No
ano de 2044, a humanidade prefere passar o tempo em uma realidade virtual
construída dentro do jogo conhecido como OASIS do que no mundo real. Após a
morte do criador desse jogo, James Halliday, os jogadores procuram a solução de
um quebra-cabeça desenvolvido pelo próprio Halliday e que promete tornar o
vencedor o dono das ações do jogo. Wade Watts é um dos jovens que pretende
desvendar esse enigma, mas para isso, ele deverá enfrentar desafios e uma
grande empresa que também deseja o prêmio.
Por
trás de toda essa produção temos ninguém menos que Steven Spileberg, que
dispensa apresentações e é quase desnecessário dizer que um filme comandado por
ele é bem dirigido. Aqui é muito notável como o diretor está se divertindo com
seu novo trabalho pois trata-se de uma história que lhe proporciona uma
imensidão de recursos que podem ser usados a serviço da narrativa. Spielberg
demostra também um respeito muito grande a esse universo nerd que ele próprio
ajudou a construir, uma preocupação em apresentar um filme coerente a tantos anos
de história e que qualquer geekie gostaria de ver.
O
diretor tem uma criatividade de poucos ao construir suas sequências e mise-èn-scene. O trabalho de movimentação
de câmera é muito inventivo, parece que estamos vendo imagens gravadas por um
drone que passeia o tempo inteiro dentro daquela realidade tão bem formulada. É
uma câmera ágil, que se movimenta a fim de mostrar a ação de vários ângulos
diferentes, ajudando a entender como funciona a dinâmica entre o mundo real e o
jogo. A cena da corrida é um exemplo muito bom do que eu estou tentando dizer,
tem muita experiência e idealização por trás de todos aqueles planos.
Mas
a parte mais legal de tudo é a infinidade de referências que o filme faz a toda
a cultura nerd que temos hoje. É possível identificar elementos de várias
produções, só para citar alguns poucos temos: Star Wars, Star Trek, Alien, De
Volta Para o Futuro, Gigante de Ferro, King Kong, Godzilla, Cidadão Kane,
Superman, Jurassic Park, Clube dos Cinco, Curtindo a Vida Adoidado, Tartarugas
Ninja e muitos outros filmes e games. É uma sensação muito interessante que
mistura nostalgia e orgulho quando você consegue entender uma referência, mesmo
eu tendo certeza que deixei passar despercebido muitas outras. Talvez a mais
nítida e mais legal seja a referência ao filme O Iluminado, uma parte
importante da história se passa literalmente dentro do hotel, é uma linda
homenagem a um clássico inegável e a um outro deus do cinema mundial, Stanley
Kubrick.


Outro
ponto muito bem trabalhado no filme é a construção de mundo, ou melhor, dos
mundos. Temos uma parte da narrativa que passa na realidade e outra dentro do
jogo, as duas funcionam muitíssimo bem em termos estéticos, torna-se um
ambiente crível e palpável, ficando fácil para o público imaginar um lugar
daquela forma. Há uma criatividade impressionante de todos os aspectos técnicos
nesse sentido, temos direção de arte, figurino e fotografia trabalhando em conjunto
para montar essa realidade, auxiliados por um CGI de ótima qualidade. Também não tem como esquecer a montagem e design
de som do filme que são irretocáveis. O
roteiro exige transições repetidas entre esses dois universos e a edição não
tem o menor problema em fazê-los interagir.
Em termos
narrativos, o filme também não perde muita eficiência. É uma história legal que
serve como um plano de fundo perfeito para o trabalho que o diretor queria
desenvolver. Não é um filme curto, talvez uns cinco minutos a menos no ato
final tivesse dado uma objetividade melhor, mas mesmo assim todo esse tempo não
chegam a pesar muito.
A
preocupação aqui não é a criação de personagens muito memoráveis, é apenas fazê-los
movimentar a história e isso eles fazem sem muito problema. O Tye Sheridan não
precisa lidar com muita dramaticidade em seu papel, então acaba sendo bastante
funcional em tornar o Wade um nerd com a bagagem e fisicalidade necessárias. O
mesmo vale para os personagens da Artemis e Aech, mesmo eles passando mais
tempo no jogo do que no mundo real. O Mark Ryllance e o Bem Mendelsohn também
estão bem em seus personagens e eu só senti a falta de um maior desenvolvimento
do Daito e Shoto.
O Jogador
Número 1 é um excelente filme que faz um ótimo trabalho a serviço do orgulho
nerd. Quem não faz parte dessa comunidade talvez não tenha a mesma percepção,
mas de qualquer forma tem um alto valor de entretenimento e dificilmente deve
desagradar quem o assistir.
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