Three Billboards Outside Ebbing, Missouri
É
incrível o poder que o cinema tem de dizer tanta coisa em poucas horas de um
bom filme. Juntar elementos cinematográficos, fazendo com que conversem entre
si e ter uma história que vale a pena ser contada ou que realmente tenha algo a
dizer são os maiores segredos. E Three Billboards Outside Ebbing, Missouri é
capaz de fazer tudo isso e ainda mais como poucas outras projeções.
Irritada
com a ineficácia da polícia em descobrir os responsáveis pelo assassinato
brutal de sua filha, Mildred Hayes decide que precisa fazer alguma coisa a
respeito. Ela aluga três outdoors em uma rodovia como uma forma de chamar
atenção das autoridades e tentar fazer justiça por sua filha.
A
direção e o roteiro ficam por conta do inglês Martin McDonagh e o trabalho dele
aqui é preciso. A câmera é pouco invasiva, temos muitos planos fixos e sem muita
movimentação pois trata-se de uma história cruel e sem sutilezas. É como se o
filme estivesse se desenvolvendo na sua frente, mas mantendo o espaço para que
a dureza dessa realidade possa se manifestar.
O
roteiro é praticamente uma aula. Eu costumo reclamar de filmes que tem muitos
personagens, mas nesse caso não temos nada sobrando ou que não tem o tratamento
que merece. Há tempo para todos de forma que cada um tem as camadas necessárias
para dar profundidade e relevância a seus personagens. Isso dá a oportunidade
de relacionar várias tramas que funcionam individualmente e em conjunto numa
história cheia de detalhes e significados. É como se as narrativas paralelas
fossem peças de um grande quebra cabeça, se uma delas estiver faltando ou defeituosa,
a obra final não ficaria completa, mas aqui cada uma se encaixa na outra sem
deixar buracos. Inclusive em um momento onde achei que o roteiro estava
caminhando para uma resolução dependente de coincidências, fiquei feliz em
saber que estava enganado.
O
elenco é o motor que faz todas essas engrenagens girarem sem engasgar. O Woody
Harrelson faz o xerife da cidade, então muita coisa cai em suas costas, ele tem
de lidar com pressões em seu trabalho e complicações sérias na vida pessoal,
não é uma tarefa fácil e o ator tem um tom de irreverência em seus atos, mas
que esconde muita coisa por trás. O Sam Rockwell tem um dos arcos mais interessantes
do filme, ele é bastante imprevisível e eu fiquei bastante apreensivo com os
pontos onde o roteiro poderia leva-lo, mas felizmente McDonagh sabe o que está
fazendo. Seu personagem passa por algumas transições que exigem reações
bastante diferentes, e ainda assim Rockwell constrói uma figura muito real.
Outras
contribuições menores também são dignas de atençao. O filme não ignora algumas
questões como o ex-marido de Mildred, um homem bruto cujas ações fazem sentido
tanto em subjetividade como no contexto das demais narrativas. E o outro filho
da protagonista também tem um desenvolvimento interessante, apesar do ator
Lucas Hedges ser o menos expressivo de todo o elenco. Já Peter Dinklage faz um
bom trabalho, mas não é um personagem com tanta importância assim.
E
finalmente falando da brilhante Frances McDormand que interpreta a complicadíssima
Mildred. É uma personagem com muitas situações para lidar, ela sofre a perda da
filha, precisa encontrar forças para entender o filho, paciência para se
relacionar com o ex-marido, ela está estressada e cansada de tentar pressionar
a polícia a fazer seu trabalho, se segurar para não cometer bobagens, achar
coragem para reagir às reprovações dos moradores da cidade e entre outras
pressões. Ou seja, definitivamente não é uma personagem fácil de interpretar e
McDormand dá muita profundidade e sinceridade ao manipular todos esses
elementos ao mesmo tempo. Ela é durona, destemida e muito determinada, não tem
como não se colocar em seu lugar e refletir sobre como uma pessoa consegue
relacionar tantas informações.
Three
Billboard Outside Ebbing, Missouri é um ótimo filme, exemplo de bons
desenvolvimentos movimentado por um roteiro quase irretocável e um elenco
impressionante. É mais do que merecedor das suas duas horas de dedicação e,
quem sabe, até mais com todas as reflexões que você ter depois de assisti-lo.
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