O Rei do Show



     

           
           Musical nunca foi o gênero preferido da maioria das pessoas já que muitos associam obras desse tipo com histórias infantis e músicas irritantes. No entanto, alguns filmes como os excelentes Os Miseráveis e La La Land, nos mostram que a categoria tem suas virtudes, mas infelizmente o mesmo não pode ser dito de O Rei do Show.
            O filme é uma cinebiografia de P. T Barnum (Hugh Jackman), um showrunner sonhador que tem a ideia de montar um circo com pessoas especiais, desafiando preconceitos e convenções sociais.
            O maior acerto do filme é sem dúvida as cenas coreografadas de musical. Elas são bem dirigidas, com movimentos de câmeras criativos e empolgantes. Em alguns momentos chega até a ser arrepiante ver toda aquela festa bem montada, principalmente quando Keala Settle abre a boca para cantar. Aliás, a trilha sonora é um grande fator na criação dessas sequências, afinal ela é projetada pelos mesmos reponsáveis de La La Land. As músicas são divertidas e bastante envolventes, combinando com o visual do filme, apesar de que algumas são tocadas vezes no longa.


            Mas um filme não é feito só disso e ele acaba pecando em outros pontos, principalmente no roteiro. O principal problema é que todos os desenvolvimentos são muito apressados, a um nível que você fica até perdido. Começamos com um Barnum criança enfrentando uma dura realidade devido sua classe social, poucos minutos depois ele já é um adulto casado e com filhos; subitamente tem uma ideia incrível para um show que, quase instantaneamente, se torna realidade. É uma bagunça, ainda mais quando o filme usa músicas para passar por essas transições. A consequência disso é que todos os sucessos de Barnum nunca parecem fruto de sua dedicação, mas sim da sorte.  Essa situação só melhora lá para o final do filme quando já conhecemos toda a trajetória do protagonista e outras questões decorrente de suas decisões começam a ser trabalhadas.
            Outro ponto é a abordagem dos personagens que compõe o show de Barnum. Todos possuem uma peculiaridade, temos uma mulher barbuda, um homem gordo, outro cheio de tatuagens e entre outros. O filme teria bastante potencial para desenvolver esses personagens, representando um grupo de rejeitados lutando contra opressões sociais, mas temos tantas coisas sendo desenvolvidas aqui que esse ponto, apesar de explorado, parece sutil demais. O roteiro também tem problemas com resoluções, fica a impressão de que qualquer desafio ou imprevisto pode ser resolvido apenas com uma música feliz. E o arco que envolve uma filha de Barnum é bem mal desenvolvido e poderia ser cortado sem afetar a narrativa nem um pouco.


            O Hugh Jackman acompanha bem seu personagem e suas coreografias, mesmo com tantos acontecimentos repentinos acontecendo o tempo inteiro. Mas acredito que um ator mais jovem poderia funcionar melhor, fiquei a sessão inteira pensando em como seria se o próprio Zac Efron (que já é do elenco) assumisse esse papel. A propósito, o Zac Efron é um dos melhores personagens do filme, suas transições são as que parecem mais naturais, principalmente no que envolve a acrobata Anne Wheeler, interpretada pela atriz Zendaya, a interação entre os dois é suave e, ainda assim, bastante significativa.


            Fiquei receoso quanto a esposa de Barnum, Charity, pois gosto da atriz Michelle Williams desde o tempo em que ela fazia Dawson’s Creek. Ela caminhava para ser uma personagem que se limitaria apenas a sorrir e apoiar o marido, mas vemos que ela tem mais a oferecer com o decorrer do longa. Já o Paul Sparks, que faz um crítico de teatro, passa o filme inteiro reclamando, chega até a ser chato.


            O Rei do Show faz pouco para se sustentar como uma biografia, falta profundidade e sofre com um roteiro instável, mas não deixa de funcionar como um bom entretenimento e você pode até se divertir com as músicas e coreografias.

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