Extraordinário (2017)
Desde seu filme Room (ou O Quarto de Jack), o ator mirim
Jacob Trembaly já mostrou que é muito bom no que faz e tem um grande potencial.
Então quando soube que ele protagonizaria a adaptação cinematográfica do
best-seller Extraordinário da autora R. J. Palacio já preparei os lenços de
papel. De fato, o filme é emocionante, mas ainda assim apresenta alguns
problemas.
Auggie
Pullman (Jacob Tremblay) é um garoto que nasceu com uma deformação facial e
está prestes a iniciar sua vida escolar. Agora ele precisa aprender a lidar com
os constantes olhares e avaliações de todos a sua volta.
Quando
fui assistir esse filme, esperava um drama pesado, daqueles cujo objetivo
parece ser unicamente te fazer chorar. Mas a direção do americano Stephen
Chbosky nos leva por um outro caminho. Ele decide não focar muito nas cenas
onde o garoto é discriminado e sim nos momentos de alegria e esperança, o que
torna o filme ainda mais emocionante pois nos dá a impressão de que as
conquistas são mais importantes e que o caminho pode levar a pena. Toda essa
premissa pode parecer clichê mas nota-se aqui um esforço do diretor ao tentar
subverter essas situações.
Mas
ainda assim é claro que existem os momentos mais pesados e dramáticos, no
entanto, eles servem apenas para ajudar a contar a história e dificilmente
ficam sobrecarregados. Sem falar que o filme ainda possui uma boa dose de
humor, cheia de referências ao temas preferidos de Auggie como o espaço e star
wars. Esses momentos ajudam a aliviar os sofrimentos do garoto, trazendo-o
sempre de volta ao seu conforto, ignorando os olhares de reprovação.
Já
o roteiro é um pouco bagunçado. O filme decide por criar outras linhas
narrativas, envolvendo outros personagens e não focando diretamente em Auggie o
tempo todo. A ideia é boa e até uma atualização para o gênero, mas acaba se
perdendo no meio de tantos personagens e histórias paralelas. O filme se vê
obrigado a dividir essas histórias literalmente mostrando na tela o nome do
personagem que será desenvolvido a seguir para evitar mais confusão. E o
recurso narrativo utilizado aqui para esses desenvolvimentos é a narração, que
raramente é considerado muito criativo.
Por
exemplo, temos a irmã do Auggie, Via (Izabela Vidovic) que lida com os dilemas
de ter um irmão especial e sua família. A premissa é bastante interessante e a
atriz também faz um bom trabalho. Mas sua narrativa, junto com as demais,
incham o filme com muitas histórias. Nesse mesmo núcleo encontramos o
personagem de Nadji Jeter que é mal introduzido e funciona apenas para ajudar
na resolução dos conflitos da Via. A Danielle Rose Russell consegue ser ainda
mais rasa, sua personagem Miranda tem motivações pouco sustentáveis e sua
função no filme é totalmente dispensável.
Quanto
às demais crianças com quem Auggie interage na escola também é possível
encontrar problemas. O Julian (Bryce Gheisar) só reforça o estereótipo de
garoto malvado que maltrata Auggie, e também não gostei de uma cena que envolve
os seus pais, ela é propositalmente revoltante, mas funciona como um recurso
pouco criativo e previsível. A Summer (Millie Davis) tinha potencial mas
aparece muito pouco. Já o Jack Will é o melhor entre eles, ele é engraçado e
surge em momento bastante oportuno, minha ressalva é apenas em relação a um
evento que implica em um breve desaparecimento do personagem e poderia ser
cortado.
A
mãe de Auggie (Julia Roberts) tem o tratamento certo, ela precisa lidar com as
consequências de ter um filho como Auggie e as frustrações que essa situação
lhe proporcionou no passado. A experiência da atriz Julia Roberts é vital para
a personagem, suas feições estão sempre expressando cansaço e preocupação, a
resolução de seu núcleo é sutil e ainda assim importante. Confesso que
inicialmente não tinha entendido a escala de um ator de comédia como Owen
Wilson para o papel de pai do Auggie, mas conhecendo seu personagem esse fato é
justificável. Ele é engraçado e o tipo de pessoa que sempre enxerga o labo bom
das coisas, essa decisão representa um alívio das questões sérias do filme e
funciona muito bem.
E
finalmente, falando de Jacob Tremblay como Auggie. Eu virei um fã desse pequeno
ator, ele consegue expor seu personagem perfeitamente só através de seu olhar e
gestos corporais. Não poderia ser escalado melhor ator para esse papel tão
sensível e significativo.
Extraordinário
representa uma inovação no tratamento de filmes desse gênero, ensaiando
questões profundas mas focando em momentos de felicidade. Mesmo com problemas
de roteiro, o filme consegue ser muito emocionante e relevante, é capaz
misturar sentimentos no espectador, trazendo lágrimas e, ainda assim, muitos
sorrisos.
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